Tempo de Quarentena
De passagem pela cidade que dorme.
Sonhos, dores, postes.
Luzes que brilham para ninguém.
De passagem pela cidade que não é minha.
Atravessando pontes que ligam lugares que não conheço.
Ruas que não me sabem.
Aquela casa verde? Quem mora? Quem deseja?
Alguém chora?
Somente essa vez, nessa cidade que dorme.
Partes escuras pouco iluminadas,
amareladas e esquecidas, quem mora?
Quem espera o outro chegar?
Do bar? Do trabalho? De outro amor?
Somente essa vez e nunca mais.
Nessa praça, esse banco já viu amores?
Começos? Despedidas? Correrias?
Floradas em temporadas alternadas?
Quem plantou? Quem cuidou? Foram arrancadas?
Na mesa de quem amarelaram?
As folhas secas, quem levou?
Que vida em outras vidas essa árvore guardou?
Nessa cidade de histórias adormecidas,
de passagem somente, hoje e nunca mais.
Cidade modorrenta embalada por coisas esquecidas...
perdidas.
De passagem pela cidade que dorme.
De passagem.
Sobre as obras
O poema faz parte do livro Da amplidão das sombras alheias ou outras histórias de amores suspeitos.
O autor é alagoano, possui em seu currículo acadêmico graduações em Psicologia e Letras-Espanhol, bem como uma especialização em Português e Literatura Brasileira, na qual apresentou uma dissertação sobre o romance policial brasileiro. Além disso, é autor de diversas obras literárias reconhecidas, como Contando Solidões e Das Coisas que Esquecemos pelo Caminho, esta última vencedora do Prêmio Lego em 2011.
Sua produção literária ainda conta com obras como Fantasmas Não Andam de Montanha-Russa, Toda Aquela Inevitável Pressa em Te Dizer Nada, Quando os Gatos Lunares Encontrarem Rodolfo Valentino na Cidade dos Bonecos Solitários e Da Amplidão das Sombras Alheias ou Outras Histórias de Amores Suspeitos.
Além disso, participou de diversas coletâneas e projetos literários como o Doce Poesia Doce e Poesia de Botão, as antologias Poesia Fora do Eixo, Infâncias e Retrospectiva 2021 Poesia Contemporânea, todas da Editora Toma Aí Um Poema.
@adalbertorfsouza