mergulho em suas águas
Águas me molham
Contornando as fendas
Que desaguam nos mares
Gosto do doce-salgado
Que emergem lento-rapidamente
Suplicando para continuar
Me molhando em suas águas.
Permissões de tocar livre
De querer livre
De sentir livre
De viver livre
De ser livre.
Ouso passear com meus dedos
Nas águas que ainda não escorrem
Nas silhuetas dos córregos
Sinto as águas modificando seu estado
De frio para quente
Deixo-me ser levada
Não quero ficar longe
Das águas que me molham.
Sou, pois, águas com e em águas
Mergulhando em ti
E querendo mais águas.
Posso eu [mulher sapatão] ser professora?
Há algo que me angustia
Que fere minha alma
Construído em perdas
Sufoco em estado de ânsia
[Posso eu [mulher sapatão] ser professora?]
Aparência de medos
Covardias em doses lentas
Elaborado com o tempo
Uma prisão de segredos
[Posso eu [mulher sapatão] ser professora?]
Dúvidas, inseguranças e tormentos
Não pertencimento de si
Ausências de discernimentos
[Posso eu [mulher sapatão] ser professora?]
Há algo que me reprime
– Mão opressora –
Posso eu [mulher sapatão] ser professora?
[Des]Retrato
No [des]retrato que me [des]faço
– Desisto e resisto –
Às vezes me cubro sangue
Às vezes me danço girassóis.
Às vezes me pinto sabotagem
De memórias insanas
– Corpo abusado-violentado –
Ou cicatrizes permanentes.
E, desse [des]canto, que me sufoca
– Lenta e dilacerante –
Minha sórdida aventura.
No final, o que será de mim?
Lâminas de cortes humanos
Escritas pelas mãos do ódio.
Revolução
Nunca entendi o conceito de revolução
No dia que você se despiu
[sem nenhum pudor]
para que eu contemplasse
seu corpo-desejo
Consegui compreender:
revolução é a
liberdade-ousadia-coragem
que uma mulher tem
de amar outra mulher.
Daquele dia em diante
nos movimentos, lentos e rápidos,
dos nossos corpos
nunca mais parei de pensar
em revolução.
Maria Lizandra Mendes de Sousa (Liz Mendes). Mulher, nordestina, sapatão e poeta que anda, por vezes, perdida no ser-em-si, mas que tem buscado, e lutado cotidianamente, para se construir enquanto um ser-para-si. Graduanda de Licenciatura em Pedagogia [CAFS/UFPI]. Colaboradora do Laboratório de Leitura e Produção Textual [LPT]. Tem um conto, “Escrever é respirar pelo papel”, publicado pela Revista Toró e uma poesia, “Sonhos”, publicada pela Revista Cais Cultural.
@maria_lizandra26