materno-normatividade
aprendi na internet
que a não maternidade
não me é autorizada
todos me anseiam calada
se eu falo
sou exibida
se não falo
sou mal-resolvida
me querem “dentro do armário”
você não precisa ser mãe
ninguém está te obrigando
só acho que não precisa
ficar na internet explicando
parece que há
certa contrariedade
em ouvir uma mulher falar
a esse dispositivo
que insiste em me calar
que é contra a diversidade
até nome eu posso dar:
“materno-normatividade”
eu sempre
irei lutar
pelo direito
do outro falar
mas por que
vocês querem me calar?
por que minha opção
tem menos valor
e não merece ter voz?
por que
quem não é mãe
não merece ser ouvida
como se de dignidade
eu fosse desprovida?
por que minha decisão
segue marginalizada?
por que minha escolha
é estigmatizada?
por que quando eu falo
sobre não maternidade
as pessoas consideram
que não tenho humanidade
que não tenho alma
ou que tenho algum trauma?
por que será
que falar de maternidade
é socialmente respeitado
visto com normalidade?
agora
se uma uma mulher
falar que não quer
gerar uma vida
será desqualificada
vista como desequilibrada
(e até desrespeitada)
por que
para ter filhos
não é preciso bons motivos?
mas
para não tê-los
aí os argumentos
precisam ser assertivos?
por que minha escolha incomoda
e ainda é vista com temor?
porque esse povinho
além de ser empata-foda
é, sobretudo
impostor
se minha escolha
te atormenta
não me importo
sou uma mulher
que não se sujeita
por isso incomodo
já estou
de saco cheio
com essa galera que quer
ser fiscal
de útero alheio
vai cuidar da sua vida
que ter inveja
é feio!
Gaúcha não praticante e fundadora do @semfilhos. Gosto de café, de literatura, de plantas, de pets e de vinho. Sou revisora de textos, mas queria mesmo ser escritora. Pareço legal, mas stalkeio as pessoas no lattes (mentira, eu nem pareço legal). Sou pesquisadora de literatura porque tenho inveja de quem sabe escrever.
@patilibrenz