O aroma e a leveza
Esfreguei as folhas do alecrim entre minhas mãos
O aroma forte me conduziu
Vi cores vibrantes
Ouvi o maracá ecoando
Não quis sair
Quis deitar
Soltei as folhas do alecrim
Voltei leve com minha identidade
Mãe ancestral
A Mãe preta de turbante amarelo
Atravessou o cômodo ancestral
Entregou-me um tauari aceso
Partiu em uma gira
Deixou a quentura entre meus dedos
O cheiro intenso da madeira sagrada
Fez a tragada fluir meus sentimentos
Fez a mente seguir para outro céu
Voltei ao cômodo ancestral
Para agradecer o elo, a proteção
Para resistir
Se meu corpo
Tocasse um tango
Viajaria ao mundo em segundos
Como um vento do continente
Um passo leve
Voltaria na brisa de um acorde
E acordaria a cidade das flores
A cidade das pedras
A cidade dos rios
Se meu corpo ouvisse um tango
Entraria em cada instrumento da harmonia
Afinaria-os como o luthier que zela pela obra única
Libertaria minha alma
Deitaria em um solo latino
Para lembrar, lembrar, valsar, valsar
Pedro Nazareno Barbosa Júnior é Assistente Social, militante da luta antimanicomial e o Poeta Pedro.Preto. Paraense com residência em Belém-Pará se descobriu poeta em 2020. Suas criações transitam em versos descritivos dos contextos observados. Neles estão os sentimentos com os rios, as florestas, a cultura popular amazônica. Recentemente vem aprofundado sua criação diante de sua identidade ancestral como um homem preto. É autor de duas Exposições: Outubros lançada em 2021, com 8 poemas sobre o Círio de Nazaré em Belém e Marajós (13 poemas e 13 fotografias correlacionadas) no ano de 2022 em parceria com o Fotógrafo Paraense Rafael Fernando.
@jrpedron @expomarajos