Capelinha
No caminho da pedra dos chifres de
[boi
Desgastados dessa labuta maluca
Leoncio contava-me que vaqueiro um
[dia ele foi
Subindo a estradinha até o
[firmamento
Nesse galope arriba, sentindo o vento
Envoltos por aquela névoa matinal
Sem a placa e sem a devida direção
No caminho perdido, recebi o abraço
[do paraíso
A mais linda imagem que um dia eu
[já vi
Por todos esses anos andando por aí
Era uma igrejinha
Solitária
Acima da cerração montanhosa
Um mar de nuvens e cumes
Sol vindo do Leste
E o firmamento azul
No gélido ar, o abraço que me veste
Santo Antônio, eu te vejo nessa
[capela
Feita de pedrinhas cuidadosamente
[talhadas
E colocadas uma a uma
Em divina perfeição
Joelhos a postos, doídos no chão
Ofereço-Te essa oração
Cerrando os meus olhos com um
[suspiro
Reluz a brilhante e efusiva luz
Surge na imensidão da singela capela
Transformada nessa poesia em uma
[cidadela
Louvada e admirada no posto mais
[alto
De onde tem-se a vista mais bela
Capelinha de luz
No Monte Sião desse sertão
Perdida na imensidão de montanhas
Sem um porquê e sem orientação
Percebe-se no fundo do peito
A magia e a força do sentimento
Coragem
Sabedor da tarefa
A mim incumbida
Onde a cachimba
Não foge à luta
Escute bem meu rapaz
Sou cabra forte e sagaz
Mesmo encolhida
Minha sorte andarilha
Nessa terra se faz
Peraí!
Escute…
Veja!
Vem algo lá! Ou será alguém?
Não importa, vou dar-lhe uma pitorca!
Não tenho medo, sou forte e bobo
Entorto qual queira, igual rabo de porca
Eu pego o rolo, sapeco na cabeça
Me complico todo, mas seja o que aconteça
Assim eu não morro!
Valha-me-Deus
Santíssima Trindade
Quando eu já penso
Que lá na cidade
Um beijo me afasta
Dessa castidade
A coragem que eu preciso
Para essa batalha
O medo assim
Que vai e que surge
Na minha cara, amiúde
Sobre as obras
Os poemas fazem parte do livro O que eu quero é ficar no sertão (Ed. Viseu, 2023), a ser lançado em breve.
Rodrigo Severo é mineiro de Belo Horizonte, onde cresceu e estudou, tornando-se um Administrador, Geógrafo, Escritor, Poeta e Fotógrafo. Apaixonado por livros, adotou o hobby da leitura e da escrita, desde os primeiros anos escolares. Após graduar-se, trabalhou em diversas empresas, e, em 2016, mudou-se para os Estados Unidos, onde viveu por 7 anos. Ao regressar ao Brasil, materializou a sua criação artística através da fotografia e passou a escrever textos e poemas. No final de 2022, publicou o seu primeiro livro de poesias, O que eu quero é ficar no sertão, onde retrata o sertão mineiro e baiano e suas tradições, conta “causos” hilários e lendas brasileiras, percorrendo por locais reais e imaginários. Desde então, não parou mais. A criação poética desceu em sua mente igual chuva de verão. A sequência está justamente neste livro, A Cidade Branca, contendo temas sertanejos, do cotidiano urbano, de sonhos e da mais profunda expressão dos nossos sentimentos e emoções.
@rodsevero