dor nodal
há uma dor perfurando a parede
e o plástico azul
uma voz aguda gemendo
do fluido vital descendo
essa dor se alinha com o que é nosso
e em sua espera
estamos largadas no pavimento
irrigadas de luz do sol tropical
e da visão de sementes neon
avistamos a curva do sentimento
inaudível e, oh céus!
é sim o próprio infinito
do som das cordas intransigentes
em filmes surrealistas ouvidas
a dor que há entre nós
nos une num nó sem início e fim
isso que nos definirá até o início dos séculos
a procura do fim
não altera
último útero
infla a forma
atraído à teia
a tear
a tecer
a tingir
o tecido da vida
aterra
terra negra
a terna teta
colo curvo
medida de
úmero útero
arremate de tudo
proposta unívoca
Shara nasceu em Valença do Piauí (1991). É doutora em linguística (UNICAMP) e professora de língua portuguesa (IFPI - campus Picos). Teve seus textos não-acadêmicos publicados em revistas, jornais, blogs e antologias poéticas, como: portal Geleia Total; revistas La Loba, Torquato, Rua, Mar de Lá, PsiPolis; antologias Uma mulherzinha não, um mulherão (Toma aí um poema), Prêmio Off Flip 2022: poesia, dentre outros. Traduziu poemas da escritora sul-africana Finuala Dowling, publicados pelo jornal RelevO.
@sharallopes