Deixar ir e me reconstruir
Nunca consegui manter vivas as flores. Talvez porque elas não me lembrem que precisam de cuidados. São lindas, unicamente desenhadas, mas ficam ali, quietinhas, apenas decorando o ambiente.
Depois daquela orquídea branca, aveludada, com bordas arroxeadas, não havia qualquer sinal de que nasceriam novas sementes, folhas ou frutos. Confesso: ela estava em um lugar abafado e não a molhei com a frequência indicada.
Estava, agora, empenhada em ressuscitar aquela planta, mas o esforço de regá-la, deixá-la na temperatura adequada, por dias, já não fazia sentido. Havia secado!
Antes disso, por um tempo, ainda surgiam pequenas folhas verdes, e isso me satisfazia, dava um fôlego, reacendia a esperança de que a planta ainda não houvesse morrido - “ainda”, porque eu sabia que sua morte anunciada apenas vinha sendo postergada.
Percebi que era assim que eu vinha agindo, ao tentar resgatar vestígios de uma paixão, que havia sido genuinamente intensa e, depois, tinha permanecido ardente apenas em mim.
Despetalei quando me dei conta de que aquilo não tinha perpetuado, tal como a orquídea. Não havia energia suficiente pra gerar novas flores, que não brotariam, ao menos naturalmente, sem vontade mútua.
Da mesma forma que esqueci de cuidar da flor, tinha sido esquecida em algum canto daqueles pensamentos que, antes, amanheciam chamando meu nome.
Era preciso lembra-lo que a presença me mantinha viva, e pedir isso me fazia enfraquecer: como as flores, não permaneço viva na ausência de reciprocidade.
Decidi, então, que nem a orquídea e nem eu esperaríamos pelo próximo outono: dela, removi os galhos secos, tratei a terra que restou; quanto a mim, sou a única responsável por lembrar de me nutrir.
Despedaçada, me fortaleci com o amor próprio: deixei ir, pra me reconstruir e, novamente, florescer.
Alexandra, Ale, mãe, filha, irmã, tia, amiga, assessora jurídica, companheira de baladas, colo para os momentos tristes, corredora nas horas vagas, devoradora de livros e de chocolates, apreciadora de vinhos e de música, aspirante a escritora…mulher. Escrever é uma das formas de me expressar, organizar as ideias, aclarar sentimentos e distrair, inclusive nos momentos de insônia e ansiedade - e espero colaborar com vocês!
@umamulhersentiu