(aos invejosos do mundo)
Palavras retintas,
surdo-mudas, intactas,
pedras adormecidas por faíscas de revolta.
Como escreviver sem elas?
A poesia entre corvos,
invejosos ostis,
é palavra requentada pelo fogo quente da boca.
No arado,
o torto da curva, a encruzilhada.
No fogo,
a salvação, a palavra mal-dita.
O contexto flagra o lapso,
o raso, o profundo choro à garganta,
a mesquinharia dos lobos plantation.
Os afetos dos criados-mudos,
entrelaçados pelos olhos gordos de vis capatazes,
preguiçosos em seus privilégios moribundos.
Mas lá no oco do mundo sem fundo,
o mandacaru com seus sotaques;
a poesia reconvexa a r-existir à cobiça,
à seca ávida dos olhos.
No calabouço da pequenez,
o desespero dos ossos quebrantados,
centeios brancos da metáfora que fermento algum vingará.
De ti, cão sem cordas vocais, os sonhos desencantam.
Entre o eu e o outro, apenas o teu desejo que devora a luz.
Nas letras das canetas pueris,
a poesia sem cor,
as tintas negras dos leitores pluri-versos.
Aos invejosos do mundo,
somente a indiferença das palavras a dançar com o Sol.
Mas se houver tempo,
devolve,
sem firulas,
a oralitura das rochas.
Alan Alves-Brito é baiano, bacharel em física (UEFS), mestre e doutor em ciências (USP), especialista em literatura brasileira (UFRGS), com estágios de pós-doutorado no Chile e na Austrália. Professor na UFRGS. Finalista do Prêmio Jabuti 2020. Ganhador do Prêmio José Reis de Divulgação em Ciências de 2022 (CNPq) na categoria Pesquisador e Escritor. Tem livros, artigos, ensaios e conto publicados.
@alvesbritoalan