ao recostar a cabeça no mato,
ouço pulsar o coração
que se abriga da máquina.
o vento sorve a seiva doce
do milharal auriverde,
que é lavra do homem.
o rio é definitivo,
e a palavra nele amansa
às margens da pele.
o vaivém de versos
absorve o curso da memória,
insinua a direção das águas.
a serra, sob o véu, dorme
ao espanto dos igarapés
— foz e afluente onde sepulto os dias.
a floresta arfa de aflição
pelas crias de Nhanderuvuçu
ante o apetite do diabo velho.
o grito do trovão, livre
na toada de Goitacás e Tapebas,
aviva o mistério da criação.
eclode no torvelinho
a voz que desafia ciosa
os espaços do inapreensível.
entre lascívia e desproteção,
a semente medra
do solo e dos sentidos.
o discurso está nela,
encantamento e verbo,
espólio de recomeços.
a palavra, fruta inconha,
colhe o viço da ventania
(há de ser da terra aprendiz e guardiã).