Maick

Raiz do Problema

Esta é só mais uma das entrevistas que concedo anonimamente. Divulgar nome e  endereço poderia custar-me a vida. O homem já desmata inocentes e irrelevantes, coitadas!  Imagino o que faria comigo. O projeto era tão ousado quanto os planos que o Todo Poderoso tinha para a humanidade. Eu aceitei participar da aventura mesmo sabendo dos riscos. 

A cena foi orquestrada pelos departamentos celestiais. Já fui duramente atacada por  essa afirmação, mas não poderia ser injusta. O fato ocorreria ainda que Eva resistisse às  investidas da serpente. Tudo armado! Nada poderia mudar os rumos da história escrita por  Deus. Ele construiu o cenário, escreveu o roteiro e escalou o elenco. O restante vocês já sabem.  A corda arrebentou para o lado mais fraco. 

A mulher ficou com fama de fraca e manipuladora. Sobrou para a serpente os estigmas  de astuta e maliciosa. Pobrezinha! Até hoje vem rastejar nos meus galhos e se queixar das  dificuldades que enfrenta por conta do fatídico episódio. Eu, satisfeita com o clima bucólico  do jardim, demorei a me acostumar com o nome polêmico "Árvore da ciência do bem e do  mal". Virei símbolo da dualidade cristã, e tatuagem cafona também. Triste fim. 

Vou encerrar meu relato por aqui, temo a chegada de mais intimações da justiça. Recebo  muitas desde que decidi falar abertamente sobre o caso. Antes disso, gostaria de deixar  registrado mais uma vez: não acreditem em tudo o que dizem por aí, eu nunca produzi maçãs.