Não tem jeito
Às 3:00 horas da manhã, o caderno verde já tem espetado minhas costas duas vezes. Vejo uma ruga de expressão subir como teia entre minhas sobrancelhas, através dos ponteiros, um azul e um roxo.
Puxo-o de uma vez, como quem finalmente mata um pernilongo, começo a escrever primeiro porque as últimas folhas me intimidam. Falo das antigas casas da rua, todas do mesmo tamanho, tom e formato, que ficam por trás do curso de fotografia. Sempre vou exercitar por lá uma técnica de iluminação inédita, vejo uma pétala amarela despencar num espaço que já foi jardim. Não tem jeito.
Depois de algumas descrições genéricas, ele: Seu nome. Intruso. Começo comparar passagens contigo, pétalas como sua saia, seus espaços, suas belezas nunca registradas por mim. Deixo os azulejos de lado, tento um novo desenho de tudo o que não pode ser dito por falta de tempo, por sempre entregar minha vez só para te ouvir, pois sinto desde sempre que em ti, há uma necessidade maior, quem sabe desembaraçar a lã vermelha no peito.
Então, busco voltar ao que eu pensei sobre as casas, todas do mesmo tom, tamanho e forma, com seus jardins fantasmas em pedacinhos minúsculos. Até que recordo de uma que no lugar da janela da frente tinha um cimento cobrindo tudo, barrando vento. Penso que é mais ou menos assim que me sinto com a bagagem que é saber tudo que sei sobre você, teu nome intrometido, que interrompe qualquer coisa minha no papel, me deixando insone num calor dos infernos, quando o caderno cutuca minhas costas às 3:00 horas da manhã.
Jéssina Freitas é graduada em Letras Português e Respectivas Literaturas pela UECE, é mestranda em literatura pelo MIHL – UECE. É escritora por diversão e publica seus textos em sua Newsletter “O título vem depois”, desde 2020.
@_jssina