Ele tropeçou e caiu
na farra
Bateu com a cabeça
no travesseiro
Enxugou as lágrimas
de tanto gargalhar
Lembrando das desgraças
dos seus inimigos
Traiu a confiança
do sequestrador
Quebrou o dedo
do seu agressor
Pegou o rumo errado
na hora certa
Viu estrelas
encontrando um novo amor
Acabou matando
a vontade em seus braços
Perdeu a noção
do tempo ao seu lado
Subiu ao céu
de tanta felicidade
Estraçalhando a vida
da dor e da maldade
Não pagou as contas
da mesa ao seu lado
Apanhou de sopetão
um buquê prá sua amada
Escorregou no chão
dançando róquenrrôu
E depois caiu na mão
do Nosso Senhor
Ela matou a fome,
amou-se no meio da rua,
atirou-se aos braços do tempo
que passava impune.
Enforcou a solidão
com um nó na garganta,
desalinhou o destino,
duvidou da sua santa.
Afogou as mágoas
com água na boca,
emocionou a razão,
transformou em pão.
Atravessou o samba
com um caco de vidro,
uma tosse no pulmão,
uma palma na mão.
A vontade solta,
prego enferrujado,
sorriso pouco,
o pulso algemado.
E num cantinho do jornal,
sem nome ou sobrenome,
pobre é preso
por matar a fome.
Procuro alguém
da minha faixa otária.
É tudo esperto demais.
Malandragem
nem precisa
ser hereditária.
O presente, de novo,
exalta a otariedade
do povo.
No núcleo da sociedade
há glândulas
mamárias.
E nos mamilos do tempo
a escória
suga vidas.
Enquanto o planeta
toca ampulheta vazio de verso,
sozinho no universo.
Da janela, puxei fundo a brisa
da noite chuvosa na mata.
Entrou mais fria
que frio na garganta.
A cor do ar é verde.
Árvore é conjunto
de tronco, folha,
flor, fruto, ninho
de lagarto, passarinho.
Todas têm formiga.
Eu tenho dor de barriga,
cabeça, coluna, coração
e tenho a noite chuvosa da mata
barulhenta na imensidão.
Tenho o que é preciso.
E o céu apertou a chuva
como quem torce
um pano de chão.
Eu acho ela bonita
onde quer que eu procure,
na busca favorita
do tempo que o tempo dure.
Eu acho um encontro,
um achado, pudera!
A virtude esfumaçada
na leveza da aquarela.
Eu tropeço na beleza
e caio na dela,
perdido na legenda
no cantinho da tela.
Eu acho ela bonita
aonde quer que ela vá,
onde ela nem esteja
ou quiser estar.
Eu acho.
Nascido no subúrbio carioca, Dinho Fonseca é artista multimídia, compositor, escritor e poeta (autor dos livros Verdade Noturna - Chiado Editora, 2015 e A curva é o sorriso da reta - poste no poste - Amazon, 2018). Sua obra já foi musicada por parceiros como Geraldo Amaral, Gabriel Moura, Rodrigo Suricato e Wagner Ricciardi, entre outros.
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