Pessoas estarão cansadas
num insono acumulado
desde um dia que… quando?
E a Terra terá preguiça
de se mexer em rodopio.
Preguiça-medo do amanhã.
– Dia longo, não?
– Nem me fale.
E os ponteiros também
se rastejarão tristes.
Tristes…
Devagar filme.
E todo o mundo ainda
corre trabalha faz produz
e a vida clipes de papel é esquecida no chão.
Porque o amigo vício sufoca o sofrer.
– O que é "ser"?
– É um verbo.
E todo o mundo ainda.
E as aves migrarão.
Voando voando Voando
voando
Voando voando
além-Terra.
Pra onde?
E, alguém olhará pra cima?
E algum ser economizará
um sorriso,
um bom dia.
Parcimônia.
"Me desgraço agora,
mas amanhã, amanhã,
serei feliz".
E alguém outro enjaulará, apressado,
uma moeda
– uma moeda! –
de esmola,
para poupar
pros herdeiros.
Previdência, arrogância.
E o desgraçado
se senta com seu melhor amigo.
A moeda? Era pra ração,
pra agora, pois futuro não há.
E, alguém olhará pra cima?
E pares dirão até amanhã;
uns amigos felizes,
outros odiando.
O amor tudo perdoa, mas…
agora não.
(Perdoar é matéria do depois.)
Nosso tempo tudo cura…
E os mares estarão calmos.
Um pescador pescará
talvez algo vivo.
Vive?
Lua cheia no céu,
Sol vazio no chão.
E, alguém olhará pra cima?
Algum casal dará imagem
ao amor.
Natural como o sentar
nos bancos de um ônibus
o amor.
E as árvores estarão floridas
explodindo em cores,
quais fogos de artifício,
num desespero mil-perfumes.
E, alguém olhará pra cima?
E uma poeta escreverá
meia estrofe
sobre um sorriso
(beleza de que o mundo carece)
guardado em memória. O último.
Talvez ELA olhe pra cima e…
Campainha: voltar ao trabalho.
O poema? Quem sabe um dia…
E… fim!
O tempo acabou.
O nosso tempo.
E não haverá mais ninguém
para não olhar
para nenhum lugar.
Tarde
Deus jogado no chão
leproso e faminto
Deus sangrando
menstruada e suja
Deus árvore queimada viva
envolvida nas lágrimas indígenas
Deus atrás de toda esquina
pedindo esmola
Deus velho no ponto
mal enxergando qual ônibus vai pegar
Deus catando latinhas
junto a um cãozinho
Deus contaminada de chumbo
fluindo podremente
Deus sozinho e triste
ao relento
Deus abandonada e abusada
agora faminta na rua
Deus agonizando nas portas da catedral
embalando sua filha em convulsão
E as gentes lá dentro rezando
– tão devotos –
nos bancos frios da Igreja
louvando uma cruz
de madeira
da Terra em morte
Diego Roiphe de Castro e Melo é um jovem de pouca idade, aspirante a escritor e animado leitor. Desde pequeno teve um contato próximo com a literatura, mas apenas recentemente começou a escrever com alguma regularidade, publicando seu primeiro poema, em uma coletânea. Atualmente, cursa Engenharia Civil na Poli-USP, procura seguir escrevendo e mantém um Instagram literário
@materia.depoesia