as rimas me fazem cortes
os sonetos levantam túmulos
os versos me endiabram
a frase incompleta me transforma em corvo
o corvo escreve com as patas
os urubus são solitários em cima do poste
o morcego é carente e voa
e cara de mau faz aos estranhos
os estranhos tem medo dos corvos
saltitam assustados dos urubus
enojados pela carniça
na noite viram morcegos.
e morcegos mal tem patas
e criam o modernismo
rabiscam sobre a fuga e o fedor da carniça
sonetos sem regras, sem nome, ordem quaisquer
melam todo o papel
de bichos mortos e sangue anárquico
e assim nasce a poesia moderna
um tudo, um mero traço.
uma lua na manhã
um explosão jupteriana, repele
um céu avermelhado, com ecos
ocultos e longínquos de gritos
dos infernos destrancados e escorre
como vinho tinto sobre o chão de pedras
o sangue dos guardas das celas
e vê-se tudo do mais alto morro e montinho de formigas
pretas e de fogo, da janelinha de dona Celeste.
vivendo os diferentes tempos,
vivendo um tempo só.
olhando numa tela de óculos
a tenra chuva,
um fim de rua,
vistosa curva.
estranho verso, gostoso corpo, meu morno tempo.
encaracola-se umas às outras as avenidas
num fantástico mundo, de úmidos edifícios
nas multitelas de ofertas, gritam em tom cinza.
um cigarro entre os dedos
cão sem dono, urge.
olho o mundo numa tela de óculos
nesta varanda feroz!
à me recolher, expiro…
um sonho de revolução.
as noites ardem
sem poesia.
a vento espreita, a pólvora arma,
atira.
os lençóis balançam, vazios
no vazio de um espaço escuro
dos cachorros latindo, na rua
nas vidas muradas
no silêncio um grito desesperado
entoando um canto rudimentar,
{a morte, esmagada. a sede, abraça, vibra)
é melancolia.
a bala, atira. o vento, dança. o vazio, canta.
e dentro de um quarto solitário
{pau duro, solitude, baseado}
cujo ninguém dorme ao lado, na cama
de um coração que dispara
há muito, recorrente arde, atira
suas batidas correm como lobos…
numa noite sem poesia.
um dia eu vou entrar numa academia
e de todos, ter o corpo mais bonito
um dia eu vou morrer.
e ter o corpo mais fedido.
é tudo um grande charme
que ejacula
é tudo um gozo (que te abraça sacudindo flácido)
é tudo Desintegração.
é tudo, tudo que é vida dançando
em nada
escorrendo em tudo.
… quando finalmente uma flor nascer acima de meu corpo fedido,
na terra real
e perfeitamente desabrochar límpida como a flor de Rimbaud
meu coveiro inimigo virá mijar em mim com nítido som de "shhh"...
formará uma nova poça
amareladamente
forte.
Leandro Gonçalves Costa. Graduando em Ciências Sociais na UFPA - 2020. Participou de cursos básicos de Psicanálise e Grupos de estudos de Sociologia. Publica algumas poesias no Instagram. Sempre esteve com a poesia na cabeça desde criança até decidir "parir" num papel e não parou mais. escreve poesia instintiva e intuitivamente, busca um toque de "lirismo" ou perverte-o. admira o lírico tendo em mente que, o "belo" não pode ter amarras tradicionais e será qualquer coisa.
@dksintegration