LeBlanc

Um dia eu parei de ser

Assim como muitos outros dias antes desse

Um dia pararei de ser, e não retornarei à espiral vítrea que preenche meus dias com insolitude. 

Pararei de ser, e então assim será com o tempo, pois que ele me acompanha por estes passos de bêbados. O mundo deixará de existir nesta solenidade que encerra meus olhos, pois que existe apenas para mim, e naufrága-me os pulmões com anseios desconcertantes como o galho que me acorda às três da manhã ao debater-se, inconformado, contra o vidro. Para onde vai o mundo quando meus olhos se cerram?

Eu já me criei muitas coisas

Já me criei branca

Já me criei preta

Já me criei parda

Já me criei homem

Já me criei nada

No fim, eu era tudo

Um monte de mentiras deslavadas e verdades de um repertório inexistente.

Acreditei em mentiras e verdades e me esqueci quem era.

Me esqueci do que gostava e o vazio me preencheu como...como o quê? 

Era o vazio? Era realmente o vazio? 

 E se fosse mais um drama desesperado de minha mente inconsequente que me guia por desculpas escusas de quem eu sou?

 Merda.

Merda? Não, eu não era merda. Eu precisei mentir. Precisei? 

Mentir tão facilmente e não sentir remorso pois acreditava na mente insalubre. 

Eu menti para a minha mãe.

Ela sabia que tinha.

Eu acreditei que não. 

E então a apatia me consome e me esqueço de existir. Pois como existiria sem ser? Ser um outro ser? Ser um sim, ser um não.  Cancele minha retina desgastada que não sabe lidar com a existência. 

Está tudo bem. Cancelei a minha dor. Não! Cansei de exaltar a dor de quem merece e ignorar a minha própria dor. Eu mereço poder senti-la?

E me fechei mais uma vez nessa carne que sustenta os meus dias e me entreguei a outro universo. Porque ali eu não preciso existir. Criar é deixar de existir para parir outro. Sou um outro sem ser e sendo esqueço que fui.

Eu fui alguém.

Eu lembro que fui alguém.

Mas pode ter sido mais uma invenção.