Tempo de despertar

Dormi liberta.  Acordei cerceada em meu direito

De ir e vir, sem medo.  Era, na certa, um pesadelo

Do qual não despertara ainda.  Mas meu peito

Dava o alerta, ansioso, de que não parecia sê-lo.

Das grades da janela, passei a olhar o infinito

Dentro de mim, uma fera enjaulada já rugia...

Desfez-se o que havia de mais leve e mais bonito

Deixando apenas sombra no lugar da alegria.

Distante da ribalta, um monólogo enfadonho

Ditava o tom da minha solidão enrijecida...

Do coração, a melodia de um bater tristonho

Dividia, em seu compasso, a minha vida.

Despertar, porém, se faz urgente e imperativo

Depois de tanto tempo exilada em meu abrigo.

Das cinzas, ergo-me, novamente, e sobrevivo

Dizendo a mim mesma: A Força está comigo!

Pós-redoma

Pós...  Sol!  Corpo dourado, marcado com a mais bela tatuagem...

Não mais a pálida imagem no espelho refletida.  Agora plena de vida!

Pós...  Cinema!  Olhar brilhante, diante da tela, na sala escura...

Não mais a clausura das maratonas sem fim.  Agora plena de mim!

Pós...  Café!  Aroma e frescor, calor de reencontro esperado e amizade...

Não mais me invade a sensação de solitude.  Agora plena de atitude!

Pós...  Abraço!  Carinho concedido, permitido e demorado, finalmente...

Não mais a deprimente foto de lembrança.  Agora plena de esperança!

Pós...  Conversa!  Presença física real, vital para a saúde e o coração...

Não mais a ilusão criada pela tecnologia.  Agora plena de euforia!

Pós...  Sorriso!  Registro de bom humor, senhor da graça e da leveza...

Não mais a tristeza estampada em minha fronte.  Agora plena de horizonte!

Pós...  Viagem!  Destinos a serem desbravados, navegados, longe ou perto...

Não mais o árido deserto do cotidiano.  Agora plena de oceano!

Pós...  Natureza!  Perfume das flores, cores vivas em vibrante carrossel...

Não mais papel sem cor e envelhecido.  Agora plena de sentido!

Pós...  Respiração!  Oxigênio puro, seguro a correr no meu sistema...

Não mais o dilema do cuidado e do rigor.  Agora plena de amor!