Caro amigo
Desculpa se hoje o vestido estava curto demais
Desculpa meu corpo impuro, vermelho, inchado e com dor
Acredito que vós mereça muito mais
Se tantos antes de ti vieram
E tantos de ti receberam
Pois como não seria vois o detentor de tamanho poder
De olhar, querer e não ter
Vós sujeito de tamanha hombridade
Possui doutorado de escolaridade
Vós...
Que tudo que põe a mão apodrece
A melodia ao seu lado entristece
E tece
Pede
mais um pedido de desculpa
Pra esse mundo que julga,
E vende essa mentira fajuta
Que o primeiro lugar e de quem
FAZ
POR
MERECER
Te eternizei por muito tempo em mim
Usei meu corpo
Para te exaltar
Foi custoso carregar expectativas
Me dizendo a todo tempo que
`Esse aqui não é o seu lugar´
E claro
só você tinha chave da porta
pra me deixar passar
Fui ficando espremida e desfigurada
Porém
Nunca desarmada
Pássaro preso também sabe assobiar
Fui de atabaque e tambor
Oxum lava meus caminhos
Mulungu limpa as mazelas
Padilha molha com mel e canela
Cada pedra
Que colocarei os pés
Adoçando os trilhos
Me fazendo mulher
Me vestindo mulher
Me tecendo mulher
De saia vermelha rodada
A sagacidade me vem da fé
Puta que pariu
Pariu!
Rio
Há há há
Mas não teve graça
Abandonada depois de uma noitada
Estava provocando não merecia mais nada
Desgraçada, engravidou
A puta pariu
Não sorriu
Não chorou
Lamentou
Criou!
Pediu pensão
E pra família que decepção
Tinha que ser como seu irmão,
Pega as minininhas mas não embucha não!
Puta
Que
Pariu
Pariu!
É menina!
Parabéns Mamãe
E o papai, cadê?
Me mandou pra puta que pariu
depois me foder...
Nua
Lua
Despida como as duas
Sereia, serei sua
Com toda a minha fortuna
Que é o meu corpo nu no oceano azul
Minha linda sereia
No teu mar quero navegar
Teu corpo quero dedilhar
E te amar
Você que me levou lá pro fundo do mar
Junto a Iemanjá
Fez de mim seu homem
E me amou como mulher
Que é
Beleza!
Perfeição
Sedução
A mais linda de todas
Matou-me então...
Mari Freitas
Poeta marginal, contadora de histórias, escrevivente
Trás em suas poesias o erótico, o feminino, o sagrado e profano, dor e o amor
a partir de suas narrativa
@mari.freee