Manifesto-me orgânica em todas as camadas.
As tentativas de ser ferem-me na boca do estômago.
O temor martela minha liberdade.
Recolho-me.
Caramelizo meu cansaço fingindo-me guerreira.
Falta-me o ar.
Descalço, perambulo entre vertigens e lucidez.
Confecciono asas.
Faço ninho.
A liberdade tem cheiro de manjericão fresco.
Mas as podas consumam – se em conta gotas.
A alegoria da mulher perfeita me exauri.
Efêmero pouso.
Ensaio deixar-me ser todos os dias.
Sou feita de amanheceres.
Eu costuro os meus respiros...
Fio a fio alinhavo as partes que me contêm.
A gramática me leva aos pés dos verdes,
à coluna vertebral antes de mim.
Consubstancio-me nas vísceras do quintal de terra batida.
Na porção de mãos e camadas das manas sexagenárias.
Ali acordo as estampas e o estômago.
Não há portas para o remendo.
A revolução é embaixo do pé de laranjeira.
De par a par com o jatobá.
Não existe trem de pouso.
As crianças correm elétricas.
O cachorro late atrás do menino.
Um sarau de vozes escorre nas mãos daquelas que fazem as tranças.
Minha cavidade nasal abraça o respiro ácido do protesto e da louvação.
Basta a boca aberta para sentir o perfume do gengibre rasgado na boca.
A assembleia é ao redor do bolo de fubá.
Nas reticencias coroadas de erva doce.
No escaldar do alecrim e no enraizar.
Ali há descanso e caos....
Uma porção de laranjas e cigarras.
Poema 1 : A substância das coisas - Antologia Nós. Editora Selo Off Flip .Poema 2 : Ensaio - Antologia : Sobre todas as coisas que eu não digo em voz alta. Editora Invicta.
Alan Alves-Brito é baiano, bacharel em física (UEFS), mestre e doutor em ciências (USP), especialista em literatura brasileira (UFRGS), com estágios de pós-doutorado no Chile e na Austrália. Professor na UFRGS. Finalista do Prêmio Jabuti 2020. Ganhador do Prêmio José Reis de Divulgação em Ciências de 2022 (CNPq) na categoria Pesquisador e Escritor. Tem livros, artigos, ensaios e conto publicados.
@nadia.calegari