Num jardim de almas e paixões nativas
Vultos erguem as palmas de suas mãos cativas
E as horas que fluem calmas tecem histórias vivas
Gerações e gerações se passaram neste terreno
Com glórias e frustrações atrás de cada aceno
Deixando corações apaixonados sob o frio do sereno
Um velho servo zela pela nobre família
Tratando desde donzela a matriarca como sua filha
Enquanto a nobreza esfarela alheia à sua vigília
Como numa tragédia grega, o jardim tinha uma sina certa
Quando a burguesia achega, cai pela melhor oferta
E cada cerejeira é pêga onde o machado acerta
O mordomo antigo não pôde continuar
Foi procurar abrigo no seu velho lar
E pensou consigo antes de tudo acabar:
"Cuidarei do arvoredo até que Deus determine o meu fim
Assistindo à cereja brotar no pé e perfumar todo o jardim
Assim como brota a fé que perfuma tudo dentro de mim"
Tiago da Silva Pinz nasceu em Pelotas, no Rio Grande do Sul, numa fria noite de junho de 1979. Servidor público por profissão e poeta por vocação, foi a leitura de autores como Mário Quintana, Caio Fernando Abreu e Paulo Leminski que despertou sua paixão pelas letras, ainda na adolescência. Anos mais tarde, aventurou-se em experiências teatrais em Porto Alegre, quando desenvolveu especial interesse pela dramaturgia de Anton Tchekhov, Bertolt Brecht e Nelson Rodrigues. Já na maturidade, encorajou-se a escrever poemas como passatempo durante a pandemia da COVID-19. O que era para ser apenas uma forma de lidar com a ansiedade tornou-se um hábito feliz. Atualmente, Pinz empenha-se em dar vazão a uma carreira literária.
@tiagopinz