centopéia
no sentido horário
sentinela anti–herói
casulo fino, vago
pele nua
voo em vão, delírio – metamor – metamor
sistema consciente, harmonizado
sem desculpa nem motivo ou medo
flutua – mudou e – agora flutua
desfez-se da gosma da qual veio
para fluir, esperou
para ser, sempre foi
para sair não demorou
mudou – agora – flutua
sentinela dúbia
casca – dor
memento mori
casa – flor – asa – arpoador
risco, sobrevoo na relva
aventura nova na selva
de pedra – o pouso, a espera
o lodo, a hera
capta o mundo na ponta–antena
epopéia, poeira doce
brilho no ar, ser vi–voador
arco–íris borda infinita céu magenta
olho bolita caleidoscópio cor bauxita
epopéia, poeira sobe – desce
poema voa
ex– rrática
ex– máquina
retumbante ciclica, bater de asas
prática
limbo ou véu, maravilha
sintoma, baba ácida
bomba atômica
ogiva vã, casulo oco
requebra cogumelo o estrondo
libélula – libre – bela
projétil flutuando no espaço
pó, ema, eira, anti–bomba
galgando símbolos
verso voa, poema nasce
Vejo o dentro do caleidoscópio
Pelo lado do centro
Entro num vínculo com o espelho
Num pequeno universo adentro
Alguém que vive em outro tempo tão além
Um pedaço de vidro é o espelho do futuro
Que caco corta nossa bolha retina
Espalha no ar as células cruas
Movimento cresce nas veias e jorra
Nunca para
Nunca estanca esse sangue
E também o pensamento
Pensamento cinza
No plural do reflexo: pensamentos cinzas
Calados, facilmente quebradiços
Estilhaços que se tornam sonhos intocáveis
De tão impossíveis de tão cortantes
Se encontram sobre o chão em incontáveis
farpas cepas minúsculo brilho
Mas são cinzas
Pensamento cinza
Mãos vermelhas
Victor Azambuja é poeta e escritor LGBTQIAPN+ mato-grossense, estudante de História pela Universidade Federal de Mato Grosso. Nasceu em Pontes e Lacerda, mas vive em Cuiabá, onde se dedica às criações artísticas de poesia, declamação, adesivos, selos e cartões decorativos como meio de materializar sua poética. Trabalha também com fotografia, edição de vídeos, artes digitais e teatro.
@victormacsig