Lucy

a jornada

Não sei realmente como nasci, mas era bem pequenininha. 

Me chamavam de Pedrinha. Fazia parte de um caminho com muitos como eu, alguns um pouco maiorzinhos, outros menorzinhos. 

Nosso grupo era chamado de Pedregulho. 

Existíamos ao pé de um rochedo com muita vegetação.

Quando chovia, e era sempre, nosso grupo era movimentado, 

e às vezes, éramos levados fortemente para outro lugar. 

Percebi que ia crescendo conforme rolava. A cada pequeno impacto formava-se uma crosta, uma camada à minha volta. 

Os impactos doíam, ardiam, machucavam.  

E ia me tornando maior, mais grossa, mais áspera, dura, robusta.

Do pequeno riacho em que antes eu me encontrava, cheguei num grande volume de água que chamavam de rio.

Nessa altura, já tinha me tornado uma grande Pedra. 

Era independente, autônoma, agora rígida, severa, rude, bruta.

Nada me abalava. Aguentava firme os impactos, as turbulências, as pisadas de animais grandes e pesados.

Até o dia em que fui achada e capturada por homens sábios que classificavam todas nós, as Pedrarias.

Transportada para a cidade, para minha surpresa, fui colocada em um lugar separada de todas, com todo cuidado.

Agora só havia luzes e lentes em cima de mim. 

Limpavam-me todos os dias com luvas brancas e macias.

Eu sabia que era firme, forte, maciça, mas todo aquele cuidado, atenção e proteção começou a me deixar mais frágil, mais delicada, mais indefesa, mais vulnerável.

Comecei a sentir algo nunca imaginado, um calor que vem de dentro, que me aquece inteira. Uma alegria, uma felicidade. 

Sofri então um procedimento. Fui moldada, lapidada, lustrada. 

Atingiram assim a minha essência, o meu brilho.

Hoje sou luz.

Diamantes são eternos.