Amor é um movimento clandestino, ideologia libertária
sem estigmas, sem dogmas
sem linhas, sem navalhas
não cabe no dicionário
Pro amor é necessário
a coragem de nadar com tubarões famintos
de correr entre os leões
preso em um labirinto
Amor é uma avalanche sem saída
uma devastação inteira
um deslize na ribanceira
um encontro numa noite tímida
Pro amor é necessário não ter espera
ele vem, dilacera, como quem não quer nada
faz de tudo, faz de conta,
fica bambo, é profundo
Amor é uma bandeira hasteada em meu peito
dando um jeito de fazer
que o amor esteja em tudo
e de todos os jeitos
É falta de resposta, relógio sem pilha,
pensamento criado,
é zelo, energia, cuidado
é um monte de coisa e mais um bocado.
lÍQUIDO
Me cobri na chuva com um poema de água
nas calhas cheias de nuvens
pingavam pedaços do céu
os telhados sorriam
enquanto as árvores dançavam
havia um poema me cobrindo
e eu encharcado de poesia
tentava enxugar os pés.
PÍLULA
Ser devoto da emoção
que seja palpável na vida
como um sonho
na palma da mão.
AVESSO
Saí na rua
o poste desviou do bêbado
a chuva se protegeu dos telhados
o buraco caiu no pneu
o filme dormiu me assistindo
a poesia escreveu um poeta
depois a rua saiu de mim
para não ser atropelada.
Juízo de valor
Sustentar esse ritmo de sonhar
por mais além que se vá
o caminho se renova
é mais íntimo estar à prova
do que ter que provar.
André Cordeiro tem 23 anos, é poeta, compositor, historiador, recifense e inquieto. Desenvolve um trabalho entre o visual, o sonoro e a poesia. A poesia está exposta nos designs que estampam seus quadros ou fachadas de prédios quando projetadas, com versos rápidos e pontiagudos na velocidade da informação. Integra o projeto musical Sentido Único. Participou da Antologia Poesia Concreta de Tuas Esquinas, promovida pela Balada Literária.
@andre_cordei.ro