naquele dia
vi no meio do caminho uma pedra
não vi metáfora
não fingi dor
era só pedra mesmo
e talvez por isso
eu tenha escrito este poema
porque sempre existe poesia
II.
escrevo poesia e prosa
porque sei que rosa
é só uma flor
é meu trabalho que carrega o pólen
que transforma flor em cor
abelha operária das palavras
opera milagres poéticos
e também trabalha dor
III.
a poesia é minha trans
piração
às
piro
expiro
respiro
a poesia é um trabalho
que me sustenta
suspiro
tudo é inspiração
IV.
a poesia corre nas minhas veias
lunação que sangra
sem que eu tenha controle
é ciclo minguante, crescente, cheio
e sempre novo
a poesia se derrama nas minhas lágrimas
rega os canteiros de mágoas
os pomares de ilusões
os jardins de maravilhas
os poemas dançam com a lua no ciclo fértil das águas
V.
as palavras me tocaram como o vento
e quando o vendaval passou
vi que os versos haviam voado
sementes minhas
sussurrei uma brisa:
eu perdi parte de mim ou me multipliquei?
Anna Carolina é graduada em letras pela UFSJ. Autora de Lua em Escorpião: versos sobre desejos profundos, publicou prosa em antologias diversas. Possui dois contos independentes na Amazon: E as namoradinhas, Guilherme? e Emprestado. Em 2022, lançou a zine poética Que essa fala de amor seja um gemido e seu próximo livro sairá pela editora Arpillera.
@annacaribee