mulher caracol
Não acredito que carrego o peso do mundo
Sobre as minhas costas.
Acredito, de fato, na força delas.
Quando me deito e sonho,
Eu vou longe, andarilha, correndo,
Pulando, saltitante na busca de caracóis.
Em seus cascos, há o meu movimento.
Corro lenta, não tenho pressa.
Vó moldou minhas costas
No formato dos caracóis.
Sua sapiência me conduziu
Para não correr com pressa,
Não comer caracóis crus.
Ela orientou ferventá-los,
Temperá-los
E aprumá-los na boca para não escorregar.
Uma mastigação cuidadosa
Para eu não me engasgar.
Vó me passou o legado de mulher caracol.
Conduzir meus próprios passos,
No movimento do Ibiri,
No meu tempo.
A força que nutre meus cascos
É a sapiência de Vó.
Assim, não me quebro.
Em meu sonho-mulher,
Eu quem comando,
Dou voltas ao mundo
E como mais caracóis
[sempre respeitando as orientações de Vó]
Larissa de Souza
Mulher caracol
Tinta à óleo, pigmento Waji e pérola sobre tela
50 x 60 cm
2023
Cassiano Figueiredo, nascido em 2000, carioca, licenciado em Letras, poeta, preto, gay, Omorixá, cartomante e canceriano. Apresentou o TCC intitulado Letramento acadêmico e autoetnografia: os desafios de um docente em formação. Ademais, possui trabalhos publicados na revista do ISAT. Atualmente, encontra-se no processo de organização do seu primeiro livro de poemas, Versos Tecidos com Fios D’água.
@eiicassio_