alice alucinada
Alice alucinada
A caminho do começo,
Desfaz sua jornada em fumaça,
Persegue a sombra que escoa.
Alice parte do nada
Escondida como um céu por nuvens
– Nada como maravilhas
Do sol brotadas,
Destiladas em suor
– debaixo do seu vestido
Libido de lebres livres,
A porta se abre ao nada.
Alice escorre o caminho
Decorado de cores claras
Em festa para um destino
Contado em falsas horas
Na demora de um percurso
Para um espaço infinito.
Alice é puro grito
Pelo silêncio engolido.
Alice é só gemido
Quando não tem mais fôlego.
Alice é tão calada
E quer superar o nada.
O desgosto do amargo
No desgaste da panela
Temperado a fogo farto
Se encontra em caldo roto
Para Alice encolher,
Mas é sua pupila que vibra
Por efeito de feitiço
Retendo as cores do mundo
Em formas alucinadas
– sob o efeito da floresta
A festa no corpo de Alice
Tatua bordados e rendas
Para enfeitar sua lenda.
Alice controla os bichos
Que seguem por suas veias
Respirando lentamente
Na pausa de suas pernas.
Alice escreve cartas
Com as quais pretende jogar:
Há cartas de amor
E as cartas de despedida.
Embaralhados os dados
E as cartas jogadas ao vento,
Alice, sentada no tempo
Emperra as horas e os dias,
Impede que venha o passado,
Prende o reino no presente.
Alice esquece o futuro
Desaprendendo os sabores
Servidos no chá das cinco.
Alice escreve um recado
Para depois do barato
Emendar a sua cabeça
Com pensamentos compostos
De palavras esquecidas.
Alice, alucinada,
Acorda no meio da noite
Com um poema na cabeça.
Onde era sono,
Sonho acordado.
Onde era acordo,
Um mundo quebrado.
Deusdedith Rocha Jr. é historiador, poeta e estudante de psicanálise, que atua na formação de professores e em pesquisas de História de Goiás e do Distrito Federal. Já publicou livros de história e poesia, além de divulgar o seu trabalho em redes sociais.
@DeusdedithRochaJr