manipular a ausência
“Manipular a ausência é alongar esse momento”
Barthes
1.
o grilo
chargol
ininterrupto
grita
à noite
inteira
e me persegue
no cerrado
ver o filho desviver
não se esquece
porque o grilo
não descansa o grito
oásis distante
2.
exsudar
suor
colostro
e fluido lacrimal
o leite das divinas tetas
busca
o fantasma
3.
o grilo chirria
: o final da tese de doutorado
foi meu puerpério quando
me acometi
de um pós-parto
temporão
a puérpera anuviou-se
em
... um cemitério de grilos na janela
... uma travessia íngreme
... uma pia de farmácia
... uma farmácia lactante escorchante cul-de-sac
... um jogo de aposta esportivas
.... uma lacuna rubra
.... um eclipse solar
.... o quase
.... a terra vermelha eclipsada
... um átimo de prevenção
... o laivo de uma cerclagem náufraga
... uma elegia placentária silenciosa esfumaçada
... o prurido rubro aberto cutucado sem hiato para ensaiar para cicatriz
4.
o grilo estridula
: ela passou pelas portas do Kalahari
para parir
se eu pari
alguém nasceu
viva!
Oriana Breu
5.
ao alongar esse momento
os grilos cantam
: ninguém sabe, mas
Oriana é o nome
de uma personagem
de um jogo só
aqui ela é um pseudônimo
eu sou oriana
Juliana C. Alvernaz é natural de Rio Bonito, RJ. É professora de Literatura e possui mestrado (UFF) e doutorado em Estudos de Literatura (PUC-Rio). É filha de Ana cabeleireira e Admilson do açougue. Desde março de 2022, atua como professora substituta na Unemat e reside em Tangará da Serra, MT, onde se dedica à pesquisa de narrativas angolanas e à escrita de poesia.
@juliana_alvernaz