predador
Toque áspero, garras de aço
raspou a prataria elegante.
Um animal assustado
emudeci, sumi para dentro de mim
à procura de um lugar
onde você não pudesse me alcançar.
Suas mãos me agarraram
me levando até seu colo
você forçou sua cabeça
procurando meus mudos lábios.
Você estava lento, chapado demais
e tinha gente no apartamento
a presa conseguiu escapar.
Mas se não conseguisse?
O predador dilaceraria meu corpo,
se banquetearia e fingiria que nada aconteceu?
O tempo todo pensei:
como contar a ela?
Passei meses me sentindo pequena e suja
com medo de falar sobre algo que sequer tinha sido minha culpa.
Ela acreditou de primeira
você invalidou minha palavra
disse não se lembrar de nada.
Seu melhor amigo acreditou em mim
ele não me conhece, mas conhece você
há alguns meses, você também o tocou sem permissão.
Minha coragem libertou a dele
e a voz masculina
legitimou a palavra de uma mulher.
Ainda assim, ela te escolheu
continua te chamando de amor da sua vida
nas mesmas redes sociais
em que usa uma fantasia feminista
mesmo que melhores amigas
devessem proteger uma à outra.
Espero estar completamente errada,
mas algo grita em meu ouvido:
ela não passa de uma presa amarrada.
A dependência que ela tem de você
é como a droga que você usou naquela noite
a faz esquecer o seu verdadeiro caráter
incapaz de ver o predador
apenas de olhos semicerrados.
Larissa Walti tem 28 anos e é de Tatuí, SP. Gosta de escrever e sempre trabalhou com isso, primeiro como jornalista e depois como redatora. Começou sua carreira literária em 2022 e tem contos e poemas publicados em algumas antologias. Entre eles, os contos “Quarto 901' (Editora Fantástica, 2022) e “A febre" (Revista Subtextos, 13º edição, 2023), e o poema “Verde-esperança' (Editora TAUP, 2022).
@larissawalti