SARAU I
Esta foi a resposta que meio veio à cabeça:
“Porque não me interessa o ridículo dos shows de calouros.
Porque, enquanto poeta, reconheço a minha completa inaptidão como ator
De modo que não vejo sequer um motivo
Para impregnar a experiência do encontro com o verso
De interpretações vazias, melodramáticas
Ou simplesmente amadoras.
Por último: porque acredito fortemente na cooperação
Na reintegração da “classe”
Na possibilidade do surgimento real de novas vanguardas
Composta por pessoas diferentes que trabalham juntas em vista de um ideal.
O que nada tem a ver com corporativismo literário.
Infelizmente, ao meu ver, a motivação mais recorrente
Daqueles que compõem esse teatro social
No qual o objetivo central é aguardar a sua vez para falar
Falar
E falar
É outra vez o desejo, às vezes desesperado
De dizer: “pronto, agora sou um poeta”.
Uma necessidade hegeliana, ou honnethiana.
Certamente uma infantil.
Questão de titulação, dragonas e abotoaduras.”
Porém, aqueles que perguntaram a razão
De raramente eu participar desses eventos
São meus amigos, íntimos
Legítimos camaradas, também poetas.
E não quero ofender gratuitamente nem eles, nem ninguém.
Guardei os pensamentos iniciais para mim.
Meditei por breves instantes
E os que vieram depois
Tão verdadeiros e autênticos quanto os primeiros
Verbalizei:
“Quando faço literatura…
Quando surge uma ideia luminosa
Que exige o signo, a palavra como medium
Eu a respeito.
A voz que me interessa é aquela que só o leitor conhece
A que ele, e somente ele, pode ouvir. Com os olhos.”
Matheus Cenachi, formado em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), é ensaísta, dramaturgo, poeta e roteirista. Atualmente, Matheus produz seu primeiro curta-metragem, BAD FAITH, e realiza pós-graduação na Universidade Federal de Pelotas (UFPel), investigando as relações entre narratividade, filosofia, ensino e técnicas teatrais.
@cenachimatheus