PARA MIGUEL
Duas horas da manhã.
Olho para o chão;
Entre meus pés
E o piso cinza da sala,
Minhas sandálias
Desgastadas
De tanto sustentar
A anatomia,
Os pensamentos,
As dúvidas
Sobre os tempos vindouros
E a saudade do meu avô
Que há anos,
Dorme profundamente
E já não pode pôr um prego
Para remendar os danos
Causados pelos tropeços
E pelos infortúnios da vida.
SINOS DO SUL
Na décima hora da noite,
Sussurrei seu nome.
Tuas três vogais,
Tuas três consoantes
Ecoavam dentro de mim
Tal qual o som de sinos
Sendo badalados ao vento
Em um país distante;
Onde mesmo no inverno,
As locomotivas partem em meio aos bosques ansiosos pela primavera,
E a avelã cresce aos beijos das brumas no verão.
Na décima hora da noite,
Perante cem sonetos de amor do Neruda,
Escrevi seu nome;
E tive a certeza de que te amo.
Sobre as obras
O poema Para Miguel faz parte do livro de estreia do autor, As primeiras flores de Manhattan, publicado em 2023 pela Opera Editorial.
Ramon Felipe nasceu em Natal, no fim do século XX. Cresceu perto da simplicidade dos pais, avós e das canções que tocavam no rádio. Graduado em Letras e pós-graduando em Docência no Ensino Superior, é pesquisador na área de Literatura Comparada, possui textos em revistas culturais e certificado por trabalho em destaque no Festival Literário de São Miguel do Gostoso. É autor de As primeiras flores de Manhattan (Opera Editorial).
@poetaramonfelipe