Noite consumida
IV
Homem, quando ama,
Desfalece a covardia,
Ao dizê-la, alada.
V
Sempre, deusa, que um deles se liberta,
Em apaixonado se transfigura,
Como toda vida por ti encoberta,
Que, qual café açucarado, perdura.
Em ti, contudo, de retina aberta
Por sobre o dia que ficou na lonjura
Junto à tarde, por ti, redescoberta,
Se sabe do frio do mundo a fundura,
Pois o limite do mal é a cura.
Todo o mal, perante essa tua mão cega,
Não resiste ao teu prazer em fartura.
Fazia falta a enluarada estatura,
Ao descobrir-se da manhã discreta,
Como, agora, na clara ausência tua.
VI
Te desfazes, na nossa última hora.
Já eternizaste todas as últimas horas
Como conduziste meu sangue ao teu peito,
E me tirou da vida
Sem me amputar do coração
Nem o choro das putas
Nem o riso das crianças.
Te desfazes, como a lágrima de um bêbado
Caída pelo chão, dormindo,
Trazendo para os olhos de todos
O levantar do Sol.
E que ele se levante
Para arder no céu pleno de tua ausência,
Raiando livre, por onde possa rastejar,
Pelas ruas, casas e becos da cidade,
Sem receio, sem submissão, sem ócio, sem conluio.
Apenas, um recomeço.
Sobre as obras
O poemas fazem parte do livro Noite consumida, em publicação pela Editora Urutau.
Vinícius Nunes Coimbra, natural de Santa Inês, Maranhão, nascido no ano de 1997, em 14 de março, Dia Nacional da Poesia, teve seu primeiro livro de poemas, Águas Latinas, publicado em 2022, pela editora Toma Aí Um Poema. Desde os dezesseis anos, faz do ato de escrever um sexto sentido, um esforço para experimentar a vida, mas subterraneamente. Pela palavra, alcança o que, no grosseiro concreto da vida, lhe é negado pelos horrores de uma sociedade montada sobre a violência, a covardia, a farsa e os preconceitos. Carrega a crença de que a palavra, a linguagem, a literatura podem e devem estar a serviço da libertação do ser humano, do esclarecimento, da demolição dos muros e da construção de pontes. Pela linguagem o ser reinventa a si mesmo e se nutre das potências que desejar possuir.
@vn.coimbra