EMOLDURADA
Ella segue altiva, salto alto, batom, cabelos alinhados, roupa elegante... Tem que dar conta de muita coisa, há poemas para escrever, aulas para ministrar, comida para fazer, precisa dirigir a empresa e coordenar os trabalhos. Precisa ser atenciosa e gentil.
Ninguém imaginará que na alma daquela mulher há vendavais, maremotos, terremotos e que ela carrega um peito dilacerado. Ella é apenas moldura.
Sua fortaleza? Ainda é uma esperança longínqua, na qual se agarra como quem segura um cipó sem raiz.
INTEIRA
Disse adeus e, dessa vez, Ella não implorou para que ficasse, tinha cansado das feridas (re)abertas no peito e na alma. No espelho, contemplou uma outra mulher, aquela que deveria ter sido em toda sua vida e que nunca havia permitido. Depois de tantos anos, sorriu e sentiu-se inteira.
VIDA ESTREITA
Ella tinha muito o que fazer, mas nada a distraía. O que esperava? De que tanto carecia? Havia em seu olhar uma espera inexplicável. Tudo em sua volta parecia triste, medíocre, feio e de mau gosto. Tinha uma vida estreita. E vivia à espera, à espreita. Por muitas vezes, quis atravessar a porta, mas a porta estava sempre fechada e não havia janelas. Não podia ser feliz, mas precisava manter a serenidade. E a cada manhã juntava toda a sua força para refazer-se e viver como quem acaba de nascer.
Anna Liz é de Santa Luzia, Maranhão. Poeta, cronista e professora. Formada em Letras pela Universidade Federal do Maranhão, mestranda em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará. Tem participação em inúmeras antologias lançadas no Brasil e em outros países, além de já ter publicado oito livros solo. Organizou duas antologias com obras de 25 escritoras maranhenses. Ao longo de sua trajetória recebeu alguns prêmios de Literatura de entidades relevantes no campo literário no Brasil e em outros países. Faz parte de algumas Academias e Núcleos Acadêmicos de Letras e Artes no Brasil, Chile, Argentina e Portugal, é membro correspondente da Academia Ludovicense de Letras. Atualmente, é presidente/coordenadora da Associação de Jornalistas e Escritoras Brasileiras, coordenadoria Maranhão/AJEB-MA. Em 2021, ficou em 3º lugar no Prêmio Alejandro Cabassa, categoria crônica, da União Brasileira de Escritores- RJ.
@anna_elizandra @ella.cronicaepoesia