Mila Nascimento

varanda

“Em alguma varanda por aí terá sempre alguém dançando pelado nesse momento”.

Era um desejo genuíno e por mais que quisesse fazer isso, em casa, seria difícil.

Não tenho varanda, nunca fico sozinha e dificilmente teria a chance de dançar pelada.

Mas aqui no Rio é diferente! Aqui a gente fica mais livre, atrevido, indecente.

Dancei.

De calcinha de renda … Caleçon

Depois do divórcio aprendi a comprar lingerie pra mim mesma pois na maioria das vezes o fulano nem olha o que está tirando!

Mas vamos à dança.

Botei bossa nova para tocar porque queria me sentir assim bem carioca mesmo.

Dancei um pouco, senti a brisa da janela bater nos meus peitos e no meu rosto.

Engraçado que eu estava sem jeito para dançar mesmo tendo sido bailarina tantos anos.

Acho que a vida tem me tirado habilidades e apagado talentos…

Em um dado instante me senti olhada.

Esse negócio de voyeur é um bocado interessante…

Os olhos deveriam ter 80 anos pra mais e habitavam o rosto feminino da vizinha da frente.

Percebi a espionagem e parei. Cobri meus peitos e ouvi: “Não pare menina! Tá bonito de ver!”

Sorri.

Ela respondeu: “ você acha que eu também posso?”

Respondi que sim.

“Mas o que vão dizer de uma velha dançando pelada?”

Ora, o mesmo que vão dizer de uma MÃE que dança pelada.

Ela tirou a camisa e dançou.

“Obrigada, menina. Os outros que se fodam. O corpo é meu!”

E dançamos. Nós duas NUAS.

Da cintura pra cima que era o limite permitido pelo pudor de uma velha e de uma mãe.

Dançamos e foi lindo demais.