fosse eu
apanhador de impossibilidades
algum tipo de deus ardiloso
eu seria você em noventa e três
isso! eu seria você
suas colisões todas
você em noventa e três
a moda a música a merenda
a aritmética sofrida
o subúrbio requintado
isso! sem dúvida
eu seria você
naquele tempo apenas
com seu canto periférico
com seu olfato medíocre
com o anel que envolve sua córnea
desse jeito mesmo
habitaria seu bairro
acolheria a vizinhança
abraçaria seu caos
e viveria seu dom
ah! fosse eu...
seria você
apenas em noventa e três
no meio da pedra
tinha caminho
tinha caminho
no meio da pedra
tinha sim!
eu vi!
trapalhice de pedra mole
sapiência de água dura
tinha sim!
eu vi!
nenhuma vez me esquecerei
estiagem
será para onde vão as chuvas
em dia de pássaro?
por todo o hoje
por todo o hoje
alongar o verso
perfurar a margem
ser parágrafo eloquente
por todo o hoje
viver prosa-argumento-mulher
existir poesia-mulher
pelo texto à fora
em luta a dentro
por todo o hoje
exceder as beiras
ser cerne-poema-canção
por todo o hoje
eu-verso-mulher
Cristina Parreira, casada há 12 anos e mãe de duas meninas, tem uma relação muito especial com a leitura e, consequentemente, com a escrita. Seus textos nascem a partir de inspirações do dia a dia. Licenciada em Letras, é professora de Literatura, Gramática e Redação, há mais de 10 anos, de colégios da rede particular de ensino, em São José do Rio Preto – SP, atuando nos ensinos fundamental ll e médio e em curso pré-vestibular. Sobre todos os Vãos (editora Ases da Literatura) é seu primeiro livro de poemas.
@cris.literar