As luzes da cidade continuam lá, ainda brilham,
De poste em poste, de janela em janela, de semáforo em semáforo.
Os cinemas ainda estão lá, cuidando dos encontros,
embalados por variados filmes; as vezes assistimos é quem vai com a gente.
A lua ainda ilumina os campos, ainda dança com o rio.
A sala, o quarto, a varanda e a cadeira de balanço, continuam lá, nós não.
Os poemas de Whitman permanecem gloriosos, nós não.
Já não conseguimos andar pela cidade, nem ir ao Cinema
Já não conseguimos ir ao rio,
Até a casa ficou montanhosa demais para nos.
Não há mais forças nos pés
Os pregos que haviam de seguras os quadros da memória, estão frouxos.
A vista nos engana, mas não deixamos o outro perder.
Temos o rádio, a nossa música, e vamos dançar, as vezes quase parando,
As vezes parado um perante o outro
As vezes apenas com os olhos
E no mais tardar, apenas com as mãos,
Mas nunca deixaremos de dançar
Nossas almas dançarão pela eternidade.
Sobrevivemos em meio a muros brancos
Deveríamos saltá-los ou quebrá-los,
mas moramos entre eles
que nos dão e tiram o medo;
Caminhamos sob um chão de concreto,
que um dia há de ruir,
não sustentará tanta consciência pesada;
Aqui dentro vagamos por um chão de vidro,
E há vozes que julgam, ecoam
quando pisamos em uma rachadura;
Lá fora há um céu, que é pura insensatez,
de dia é cinza e chove poluição,
à noite, as luzes da ganância ofuscam a lua
e escondem as estrelas;
Aqui dentro só vejo um céu escuro,
que leva expectativas ao chão
como chuvas de inverno...
O que de mais belo havia lá fora,
Foi destruído!
Aqui dentro, a destruição também reina,
mas pedaços de meu coração ainda se comovem
ao contemplar nossos pedaços de natureza.