As manhãs de agosto em Criciúma
são miúdas, frias,
esquentam lentas, passivas
em nossos corpos ainda mornos.
A poeira da cidade se levanta vermelha,
hostil como as caras de seus habitantes
que não gostam de nós
viajantes coloridos de outro sonho.
Ontem, eu falava aos meus amigos
sobre uma tranquilidade bravia
seca, solitária e boa.
Agosto é um mês agonizante
morrendo em seus desgostos inúteis
cansado de seus vinte dias.
Pouco importa
Agosto é só o começo.
Este junho entrou gelado. Enquanto é tudo manso, menos o frio, de romper lábios e gelar mãos, espero. Refletir quer dizer pensar de novo, vez outra. Sobre o que se foi ou virá, que aflige tanto assim o pensamento. Sobre o que é, será, pode ser. Reflito. Que tempo novo, estranho, este que me surge à frente. Comecei agora, tudo outra vez, como se antes não, e, no entanto, antes pesa em cada palavra ou decisão, antes posso dizer que até ajuda.
Pensei, será que o frio do sul faz as pessoas tristes? Digo por que quando no Norte não, havia lá um jeito de viver mais leve. Diferentes as coisas, de um jeito ou de outro, iguais não. Cedo se acumula assim cada vivência, dez anos desde que pus os pés no mundo adulto, parecem mais. A cara no chão, dor a toda hora, parece que passou.
Será que a felicidade me pegou?
Brick Works
Lá embaixo a cidade ruge e vomita
Do alto desta colina ouço os gemidos da rua
Mas o cheiro das flores me embriaga
Aqui, sobre os trilhos abandonados de um trem que não virá
A natureza tomou posse do que é seu de direito,
destruiu a obra do homem, cerrou-se.
Resta apenas um longo caminho na floresta
uma ponte gigantesca onde ninguém jamais pisa
e os pássaros, os pássaros, e as flores.
Oh, mundo, reclama o que é teu,
cerra-te sobre a folia humana,
quebra pontes, estradas, arranha-céus
que de humana reste apenas poesia,
grafite sob pontes velhas
e a música que imita os animais.