ODE AO LEQUE
“Toujours tel il apparaisse
Entre tes mains sans paresse”
Stéphane Mallarmé
Hendecassílabo (3ª, 5ª, 8ª e 11ª)
Se o verão me lavra de atroz nevralgia,
De suor em frasco, fracasso à saúde,
Há na moda um item de chique atitude
Que oferece frágil fração de ousadia...
O flabelo livra a atmosfera de grude
Numa brisa em safra de ardil fantasia...
É gostoso o leque abanar em folia
Nas fragatas, praias em tal plenitude...
Glorifico o leque da China e da França
Que, retrátil, bravo seu vrá escalavra
Os naufrágios destes tornados em dança...
E também os leques, em tempos antigos,
Transmitiam franco sinal sem palavra
A rapazes que eram bem mais do que amigos!
PESANDO O CORAÇÃO
Em contorno o kajal nos olhares sinistros
De figuras sacrais em perfil, a que admiro,
Pardacento e dourado o lugar no papiro
Às castiças canções nos satânicos sistros.
Sem remorso, o chacal, divindade e vampiro,
Um sorriso me lança, em sinal, aos ministros
Pesarão um penacho, as ações, os registros
Na balança de prata em perfil, a que miro.
Brevemente sonhei: e na próxima vida?
Faraó? Samurai? E bilhões de tesouros?
Uns donzéis num harém de Sodoma perdida?
Mas a Anúbis retorno, à saleta sangrenta;
E, na dor, na saliva ascendente de agouros,
A balança o cruel coração arrebenta!