Nil

Sobre as obras

Ponto.

Não, eu não sabia, mas te carrego em grande quantidade mesmo nunca tendo lhe desejado, ou comprado, ou pedido, ou vendido, ou encontrado. Te vejo desde quando não se formavam as lembranças que tenho hoje. Te falo, como se pudesse me ouvir ao ouvir tudo desde o dia que te vi. Te sinto, por todos os lugares os quais passei e temo que te encontraria em outros lugares caso eu não viesse a passar por eles.

Se, falando em lugares, sendo o que é, jamais pensaria que estaria em tantos. Se, fazendo desde os papéis vindos da escola, se estendendo até às remanescentes visualizações distópicas de sinapses que não pertencem a mim, mas que se tratam de mim. Se, sendo gigante dentro de um quarto que nunca foi pra mim, e és tão pequena dentro de um universo que nunca foi meu, vejo que ainda assim tu cobre o olhar pro céu azul que anseia me engolir me fazendo noite.

Culpe, eu sendo tanto, porque afinal eu te carrego, entre os cortes das minhas mãos cansadas, sobre a minha pele que descama ressecada de lágrimas. Porque te sustento em pensamentos, mesmo que por trás do meu olhar não caiba mais nada, e todas as inconstâncias inconvenientes tenham se amontoado tantas que se petrificaram molhadas d'água salgada impedida de correr pela única passagem, pois se lotou em barragem que impossibilita qualquer outra sensação que não seja o que você é.

Ponto final, sem escolha te equilibro com todo peso sobre meus pés calejados de caminhos, cansando-me com a dor sobre meus ombros, aceitando os brilhos de esperança para suportar as mãos que me fazem peso mas que me abrem caminho, como se a palavra inicial de cada parágrafo da minha vida e desse texto, juntos fossem me confortar em algum sentido.