Aperto os lábios
não sei ao certo
acho que pra conter o resto.
Fazer vácuo
contrapeso
manter tudo no lugar.
Quando me pego mordente
incisivas machadinhas
fazendo seus reféns
quase deixo os caninos latirem.
Fique aí você
com sua cara shibari.
Tempo fechado
um vendaval
50 nós.
Amarração não me pega.
O amargor desse olhar
não me amarra a boca.
Se eu me portasse como queriam
usava véu e focinheira.
Não me escondo mais
me mostro inteira.
O sol do plexo
o pleno d’aura
a luz da alma.
Música para os ouvidos.
O natural da minha boca é o sorriso.
Caiu como luva
de boxe
foi mão na roda
gigante
tremi na base
faixa de gaze
mas sou rata
ás
prata
ágata
grata escaldada
lava empedrada
rocha
chama
pentagrama.
A moça toma sol
embebeda-se de luz
posa para a fotossíntese.
Vapor celular
em osmose marinha.
Deitada, a moça engole
suor, ardor, a seco
se derrama só.
Microscópicas pocinhas
brotam dos seus pelos
piscinas naturais
salinas.
Entorna
litros de sol
gotas vertem do corpo.
Verte do copo
pinga.
Como que vai levar o peixe
você trouxe isopor?
Não é o peixe
é a calma
Eu semeio
a terra verde molhada
pacífico
Tritão é da gerência
de mãos dadas com a dona
Janaína dá a licença
Ao som de corais anônimos
anêmonas estrelas
segue o baile marinho
ondinas, orcas, sereias
Barganho com Netuno
o ganho perdeu lugar
pesca é o dominó do mar.
Clara Imperatrice (SP) é graduada em Design de Moda e tem Pós-Graduação em Docência no Ensino Superior pelo Centro Universitário Senac. Compôs seu corpo docente de 2008 a 2020 como professora de desenho e comunicação visual. Manifesta as habilidades criativas através das artes plásticas, do design e de seus poemas. É autora do livro Palavras de pronta-cabeça, publicado em 2023 pela Editora Patuá.
@clara.imperatrice