Ferida Aberta:
Sou mais um rebelde
Nessa estação
E mistério
Doravante…
Sou homem-menino
De sutil razão
Com coração estonteante
Às vezes, incompreendido
Malogrado pela vida,
Labuto entre as sombras
Retrocedendo toda ferida
A estancar…
O sonho a indicar caminho
As pedras colho às mãos
Bem atinado aos ventos fortes
Onde amores vem e vão…
Se a sorte é meu desatino,
A arte minha prisão -
Sem limites me definho -
Entre versos me alinho
E repouso em canção
Nesses meros devaneios d’alma
Ecoados entre irmãos,
Deleito-me à toa, abobalhado
Como a sapiência calma dos sábios,
Minhas palavras ganham chão
E eu, razão para viver.
Quebranto:
Transcrever em versos
Metrificando a canção
É tarefa árdua,
Inexpugnável coração
Alquebrado e desfalecido,
Serve a alma com avidez
Perde o ímpeto, acalentado
Ao seu amo mais uma vez…
Se ao menos refestelado
O incauto soerguesse,
Louvado seria o pródigo
E o fardo se sustenta com interesse;
Não obstante, o manejar pelo outro
Nas quimeras, proeminente…
Ai de mim! Recaído em desgraça
Tal qual um vassalo indulgente
Donzelas desagradam
No tempo vigente…
A luta o comove mais:
Glória perene, expectativa sobressalente
Como uma flor a desabrochar,
O servo lastima a solidão
Uma nobre parelha
Foge aos sonhos do patrão
Sou-lhe a única companhia
Indigno seria do cargo apear
A estrofe erigida
É mel a gotejar
Em lábios inauditos
De um escriba a entalhar
Suas ilusões em tabuinha de argila,
Nasce um poema a contemplar.
Marcelo de Castro Farjala Gusmão é empresário soteropolitano; amante, leitor e escritor da poesia, filosofia, literatura e música; eremita social; torcedor assíduo palmeirense; alma roqueira e praticante da simplicidade voluntária.
@marcelofarjala