Não sou o monstro.
Sou a noite chuvosa.
Não sou o mal.
Eu só faço barulho.
Não tenha medo.
Sou apenas como os raios que cortam o céu.
É assustador, mas lindo.
Fique aqui quando eu falhar.
Fique quando eu estiver errada.
Não fique me olhando perder o caminho.
Grite ou segure minha mão, mas apenas mostre a direção certa.
E eu vou seguir.
Olho para o mundo ao meu redor e sinto pessoas vagando através de mim, elas tocam minha pele até que alcancem as camadas mais profundas do meu ser. Tocam meu coração e
veem minha alma sem permissão, só para soltar, arrancando os pedaços no processo. Frustradas com o que veem, vão embora sem olhar para trás, sem tirar as impressões dos dedos que queimam tanto quanto o fogo.
A solidão e sua paixão ardente pela imperfeição me mantêm aqui; preso, esperando a luz perfurar as paredes frias e iluminar esse lugar escuro, isolado e cheio de medo. Não sei até quando vou receber somente as visitas que sentem fome e consomem minha vida, não sei até quando vou ficar sentado esperando alguém curar o cansaço e lavar meu corpo.
Ele ainda sangra e o odor de morte evapora das gotículas de suor das lutas incansáveis contra aqueles que tentam me ver. Ver a cor da minha alma, ver que estou repleto de cicatrizes que desfiguram o brilho fraco da chama que ainda existe em mim.
Sufocada pela própria mente, não escutam-se os gritos.
Enfiada nos próprios sonhos, ela respira com sorrisos.
Presa em seus desejos, espera que os olhos sequem.
Mas o medo vem e borbulha no estômago até que a noite vire dia e os pensamentos não desliguem mais.
Agora os sorrisos precisam ser maiores, porque os olhos não secam e os sonhos aumentam ao mesmo tempo que a coisa vai crescendo dentro de si e a puxa para baixo.
Tem dias que me sinto perdida, vasculhando nas memórias quem sou.
Que marcas me moldaram e dizem o meu nome.
Tem dias que sou incrível, invencível e com poderes de força para lutar contra as sombras da noite.
Mas tem dias que sei o meu nome, que me conheço; sei a cor das minhas marcas e a profundidade.
Esses dias em que tenho o vislumbre da minha imagem são curtos e vagos, porque cada vez mais pedaços de mim são roubados ao longo da vida.
Me chamo Maria Aline, tenho 22 anos e nasci no ceará. Desde pequena sempre gostei de ler, mas como não tinha fácil acesso aos livros meu contato com a leitura era pouco. Somente na adolescência que comecei a ir para a biblioteca da cidade e meu mundo se tornou os livros, sentia que conseguia respirar quando lia, conseguia superar qualquer coisa. Mas só depois da morte da minha avó, a pessoa que cuidou de mim durante os anos que encontrei uma forma de superar o luto: A escrita.
Foi na pandemia que comecei a escrever e me expressar por meio das palavras e se um dia considerei respirar com a leitura com a escrita experimentei o extraordinário. Hoje, escrevo porque faz parte de mim, é quem eu sou. Sem a escrita, sem os sentimentos nas palavras, me sinto apenas um corpo vazio e sem sentido. Então posso dizer que amo escrever mais do que amo viver.
@autoraaline