A droga que se virava aos goles,
entre controles e consoles
nem vi que o primo tava grogue
foda-se, que se jogue!
Na mente, o destilado
O jovem, isolado
se corta com o caco do copo quebrado.
O outro moleque que é o culpado.
A morte da inocência
que rolou na cozinha
foi só pela indecência
na rinha:
pai vs filho.
Família inteira fora do trilho.
Primo prodígio,
irmão vestígio,
morrendo pelas beiradas.
Do nó
na garganta
ao pó
na janta
a gente sobrevive
e só.
A insônia que dá torcicolo
A coluna que entorta a cadeira
A cabeça de pedra no travesseiro fofo
Meus sonhos decorados com móveis de revista fantasia
O capacho desinfectante na entrada não me dá mais boas-vindas
O aconchego que visita se despediu de mim
e a angústia do sofá vazio parasita
Louça suja no estômago cheia de restos de porcaria
Teto da carne com infiltração de ranço
Mágoa que inunda o quarto onde esconde a si debaixo dos lençóis
feito criança que corre dos monstros que se mudaram do armário
para cima da cama
Alicerce podre da espinha sustenta ilusões demasiado pesadas
que abraço e cuido e amamento como crias pequeninas
Enquanto o sótão esconde verdades que desabam
em algum corpo e alma estranha passando no corredor
o meu
Furos errados e tortos na parede
sustentam nem prego nem princípio
Há de se aplicar massa corrida no passado
Quadros desalinhados e porta-retratos
de rostos que me encaram de soslaio
Memórias embaçadas
O espelho reflete algum conhecido de longa data
que por algum motivo é insuportável olhar-lhe os olhos
Aquela sensação que invade pela janela
e força o pescoço para baixo
até o olhar virar ao avesso em humilde humilhação
Já não me sinto em casa em mim
E o corpo não é o corpo estranho
É a alma estranha e intrusa
Mudar-se
Redecorar-se
Reformar-se
Só queria morrer às avessas
e achar lar em mim
E fazer de minhas paredes
casa
mas é cárcere
Redator Publicitário, cineasta e roteirista de formação, Maurício escreve para viver. Cria poesias, contos e crônicas. Escreve com o coração, cérebro e vísceras — não necessariamente nessa ordem. Aborda trivialidades e ordinarices, sarcasmos e melancolias. Em 2018, teve seu primeiro conto publicado no 3º Concurso Literário Conto Brasil, da editora Trevo.
@mau.campos