A minha alma ama a chama que inflama a dor
A minha alma ama a mão que engendra a alegria e a dor
Porque a mão que tece a agonia
Entretece um novo dia
Ele fazia as mesmas coisas todos os dias. Todos os dias.
Com fidelidade e devoção.
TODOS OS DIAS. Na infância sonhava ser herói.
Como os seus heróis dos gibis.
Mas a vida o levou para longe de seus sonhos.
Para o comum. Para o ordinário.
E nesse ordinário encontrou,
Através da fidelidade à monotonia dos dias -
Um heroísmo maior do que todos os cavaleiros e heróis
Que imaginou ser um dia.
Planto minha flor no caos urbano
Ao som do coro das britadeiras –
Pavana Opus 50 de Fauré
Aquele cargueiro nada romântico de companhia estrangeira
Que cruza a baía deixando fumaça em sua esteira
Simplesmente não passa de um nada romântico
Cargueiro de companhia estrangeiro
Mas para meus olhos sempre fascinados da infância
Sempre será
O navio de Simbad
Minha terra tem britadeiras que cantam junto com as motosserras
E as buzinas que aqui buzinam
Não buzinam como lá
Não permita Deus que eu morra sem que eu não volte
Para lá
Pois quero ver a terra que tem palmeiras onde canta o sabiá
Onde as aves que aqui gorjeiam não gorjeiam como lá
RUDÁ AMÉRICO RIBEIRO DE OLIVEIRA, poeta, contista, romancista, com a autoficção ANTES QUE NASÇA O DIA publicada pela NITPRESS em 2006 e pela MULTIFOCO EM 2012. Nascido a 29/12/1958 em Vitória, ES.
@rudaamerico